sábado, 29 de maio de 2010

Despedida

E chega a hora de partir. Imaginei que fosse fácil - tipo arrumar as malas e não olhar pra trás. Não é. Foram anos muito bem vividos. Fatos inesperados e muitos outros bem planejados.
Como a vida nos surpreende! Aqui entrei tão jovem, estudante e mãe e, hoje, saio me sentindo, de fato, uma mulher. Mulher, profissional e mãe. Lembro dos meus sonhos e até das metas estrategicamente escritas (hábito que guardo até hoje), do meu otimismo e também das minhas infantilidades (decorrentes da imaturidade). Do meu inconformismo algumas vezes infundado. Mas também da minha alegria e do desejo de fazer do dia-a-dia algo melhor. Da força com que me impunha na realização dos projetos. Fico pensando onde encontrei tanta força... Somente Deus pode explicar.
Lembro dos poucos anos que pude ser inteiramente mãe e dona-de-casa, da minha iniciação na cozinha, das conversas com as vizinhas e da construção de sólidas amizades. Da experiência como síndica, da reforma no prédio, das brigas nas reuniões de condomínio. Das famílias que por aqui passaram, dos problemas que algumas nos causaram e das boas lembranças que muitas deixaram.
Festa de formatura, aprovação em concurso, separação, promoção, realização! ... Alguns quilos e rugas e até caprichos estéticos...
Não sou mais aquela jovem que adentrou esta porta como se entrasse num palacete, deliciando-se com as primeiras gotas do seu suor. Não sou mais aquela mãe devorando livros e revistas em busca das melhores formas de educar e criar um filho. Não sou mais aquela jovem estudante frustrada porque já quase no final do curso que escolhera para exercer, não via perspectivas no mercado de trabalho. Também não sou mais a ‘esposinha’ perfeccionista que vivia em prol da família de comercial de margarina. Não sou mais aquela ser extremamente emocional, que muitas vezes falava e agia sem pensar. Mas ainda sou tanto do que fui...
Olho pros objetos, pras paredes, pras cores. Tudo está impregnado de lembranças, de vida, de história. E ao contrário do que imaginei, não é fácil partir. Vejo pedacinhos de mim em cada detalhe... levo comigo muitas lembranças e aprendizado, muito aprendizado (nossa razão maior de existência).
Tenho procurado levar apenas o que importa. Muitas coisas vão ficar. Pedacinhos de cartas, cartões e agendas, provas da universidade (todas organizadas por período), juras de amor eterno, recortes de jornal, livros que nunca mais serão lidos, objetos que não tem mais utilidade ou significado... Tudo vai se acumulando no lixo... somente o importante restará na memória.
Nada de pressa. Pacientemente analiso, seleciono, guardo ou descarto. E simultaneamente um importante período da minha vida vai sendo projetado, como se fosse um filme.
É um misto de prazer, saudade, alegria, dor e esperança. Parece que a vida está trocando de roupa.
Porque o lar é também nosso reflexo, parte do que somos, gostamos, valorizamos.
Meu novo lar com certeza será diferente, porque não sou mais a mesma. É como um quadro que começarei a pintar. Vou construir meu novo cenário. Cada pincelada refletirá um pouco de mim, um pouco do que desejo...
Espero realizar mais uma bela pintura! Assim como esta, que agora ficará exposta no museu da minha alma.