sábado, 12 de novembro de 2011

Muitas vezes o Pessoa traduz o meu estado de espírito

Nuvens

No dia triste o meu coração mais triste que o dia…
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada…
O dia triste, a pouca vontade para tudo…
Nada…
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo…
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente…
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se…
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer…
No dia triste o meu coração mais triste que o dia…
No dia triste todos os dias…
No dia tão triste…

Álvaro de Campos (um dos heterónimos mais conhecidos do Fernando Pessoa)


domingo, 16 de outubro de 2011

Teu olhar


 
Os teus olhos contam-me segredos
que os teus pensamentos desconhecem.
Neles te enxergo sem o controle
que a tua prudência requer.

É você conforme eu!

E assim, hipnotizante...
arrepia-me a pele,
resfria-me o  pé do ouvido,
amolece todo o  meu  corpo,
                    deixando minha respiração...
 descomunal.
            
Tudo,
tudo efeito colateral,
  do fascínio desconcertante
 que há,
nesse encontro do meu
com o teu
                    olhar!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Não importa se vivo
mais de sonho que de fato.
O que importa é que o fato
seja sempre um sonho!

Arrependimentos? Nenhum.
Embora tanto à devaneios me prenda...

O fazer algo novo é essencial.
Mas também há algo de fascinante
no fazer todo dia, sempre igual.

Não é questão de ser contraditória.
É buscar a cada instante aprender
a ser um novo ser!!

Luana Carvalho
Arte: Jaroslaw Kukowski

sábado, 25 de junho de 2011

O mar




Gosto do mar
porque parece infinito,
assim como deveria
ser o amor.
Gosto do mar
porque me acalma
contemplar suas ondas dançando
ao ritmo dos ventos.
Gosto desse casamento
do mar com o céu,
quando fica difícil distinguir
o começo de um e o final do outro.
Gosto desse som que emana das ondas
acalmando minhas idéias,
revigorando meu ser.
Gosto desse cheiro que
me faz lembrar da importância
das coisas simples.
Gosto de sentir a areia
massageando meus pés,
tocando meu corpo...
Gosto do banho salgado
que leva as energias negativas.
Gosto de ficar sozinha
olhando, sentindo e ouvindo
esse meu amigo, chamado mar.