quinta-feira, 30 de março de 2017

Rosas do deserto

 


Minha mãe costuma enviar fotos de suas rosas, especialmente pela manhã.

O meu pai enviaria canções, eu imagino...

Há pessoas que se expressam bem com palavras, outras com gestos, outras com o olhar... O meu pai era bom com as palavras, olhava fundo nos meus olhos e falava com a firmeza necessária pra me deixar segura. Já minha mãe nunca foi muito boa de conselhos, está sempre em dúvida e prefere finalizar com um "você que sabe, minha filha". Ela se expressa através de atitudes, no cuidado e na doação cotidiana... é assim que ela sabe nos amar. 

Voltando às rosas... que lembram cheiros... cheiros são memórias. Gosto do cheiro das rosas da minha mãe, mas também gosto de cheiro de cigarro, que lembra o meu pai...então esse negocio de cheiro bom é bem relativo, pois eu sinto saudade do cheirinho de hollywood... Há uma foto na minha parede em que eu seguro um ramalhete de rosas sentada ao lado do meu pai bem magrinho, com um chapéu cobrindo a cabeça raspada e um óculos escuro... eles já eram divorciados naquela época, mas posso dizer hoje que as rosas da foto, de certa forma, representam a minha mãe.

Um certo dia o meu pai me falou, com aquela firmeza no olhar, que a única mulher que havia amado na vida tinha sido a minha mãe. Eu, emocionada, claro, achei lindo... mas um vício, um desencontro, um orgulho... enfim, muitas coisas podem ser mais fortes que o amor. Não deveriam, mas podem.

Eu gosto muito de rosas e de cheiros e de olhares... sobre ver flores em pessoas, sobre cheiros que te levam a outros tempos e mundos e sobre olhares que entregam tudo... .

e, particularmente, sobre as rosas do deserto:

minha mãe, rosa 

com o doce perfume da presença 

meu pai, deserto 

com o triste vazio da saudade.



Luana Carvalho

Foto: minha mãe