A internet
e suas redes sociais têm contribuído para uma geração cada vez mais covarde e,
contraditoriamente, que se acha muito inteligente e poderosa por poder falar o
que pensa, ou acha que pensa, sem expor sua face.
Vestido com a armadura
da virtualidade - e a maioria das vezes de forma indireta, você diz [com o peito inflado] o que
gostaria muito de ter coragem de falar pessoalmente. Mas pessoalmente é algo
muito complexo e estranho pra você. Pessoalmente talvez você só seja capaz de
sorrir aquele sorriso amarelo, balbuciar poucas e vagas palavras e dizer em
alto e bom som: “a gente se fala por mensagem”.
Até os
relacionamentos começam por mensagens [seja telefone ou redes sociais]. Você pode até ser vizinho, mas só tem
coragem de 'chegar'... por mensagem. Porque a possibilidade de receber um não
olhando no olho é muito humilhante pra você. Ou porque você acha que um ser tão corajoso não pode
mostrar que está nervoso, envergonhado ou suando frio, afinal, isso seria uma grande covardia! Sem falar que, por mensagem, ninguém vai ver você chorar... Por mensagem, você pode mostrar-se feliz sempre!
Então, sendo assim, você vai se encontrar [de verdade] apenas pra beijar ou pra transar, porque por mensagem ainda não dá! Ou dá? "Vamos tentar?"
E se o rolo, namoro ou
a troca de mensagens não vai bem? Nada como uma mensagem legal! Nada, mas nada mesmo, como um bate papo virtual! - “Eu sou muito bom com as palavras, sempre falo
tudo que penso sem medo.”
E se quer terminar? AAhh, uma mensagem resolve tudo! Todos ficam felizes como se nada tivesse
acontecido - “Acabamos numa boa, vou trocar mensagens com outra pessoa!”. Afinal, foi
apenas algo virtual – mensagens, mensagens, muitas mensagens... Públicas e
privadas, diretas e indiretas.
Tem algo pra
dizer a alguém? Seja quem for... Passa uns minutinhos no google, copia e cola algo genial que
alguém escreveu [certamente porque tenha vivido uma vida real], põe um fecho pra parecer que você compartilha de tudo aquilo e, tam tam tam tam: Joga na rede, o que cair na
armadilha, é peixe!
E não podemos esquecer
das curtidas. Hoje praticamente sinônimo de aplauso. E quem não gosta de aplauso? Joga na
rede [ Your second life! Ou será primeira?] e passa o dia todo curtindo as ‘curtidas’... Puro êxtase, uhhhh! – “ahh como
eles me adoram!... Eu sou demais!”.
Diz tudo o que quer da
forma que quiser! Quase sempre direcionado a alguém... Mas, se der algo errado você se desculpa ou faz de conta que não entendeu ou joga a culpa na vítima. – “Não, que é isso? é apenas
uma reflexão neutra”.
Ligar ou falar olhando nos olhos é tão difícil...
Muitas vezes me vejo
contaminada por essa covardia. Talvez para retribuir, entrar no jogo - me
sentir no time! Afinal, cheguei há pouco tempo nessa rede gigante e desconfortável e ainda não aprendi a me balançar... Confesso que prefiro as redes que juntam as peles... E tenho muito medo desse balanço alucinante.
Que saudade sinto do tempo em que usávamos apenas a nossa cara
para enfrentar nossos problemas, descobrir nossos sentimentos e conhecer o outro.
Ainda sou do tempo que
coisas importantes eram resolvidas cara a cara. Do tempo em que telefone era
usado para dizer: "estou indo aí te ver!" ou "liguei só pra escutar sua
voz e...".
Sou do tempo em que as pessoas tinham coragem e eu nem sabia que algo tão simples como enfrentar a vida de corpo [presente] e alma significava tanto. Sou do tempo em que até as indiretas eram, no mínimo, direcionadas à pessoa certa, face [real] a face [real].
Sou do tempo em que as pessoas tinham coragem e eu nem sabia que algo tão simples como enfrentar a vida de corpo [presente] e alma significava tanto. Sou do tempo em que até as indiretas eram, no mínimo, direcionadas à pessoa certa, face [real] a face [real].
Sim! Sim! Ainda existem pessoas que quando querem falar com você te ligam... Que quando querem te ver vão ao seu encontro - mesmo que isso signifique pegar um avião. Tanto sei que tive e tenho o privilégio de conhecer e reconhecê-las.
Finalmente, o meu maior medo... A
minha maior preocupação, é, como mãe de um adolescente, saber ensiná-lo a ter
sua própria ‘face’ e a escrever o seu próprio ‘book’, sem usar essa armadura.