domingo, 1 de novembro de 2009

Fast-food do amor

Vivemos na era das facilidades, da velocidade, da comodidade. Está tudo pronto para levar, para comer, para usar. Não precisamos mais passar a tarde na biblioteca, basta um clique para ter acesso às bibliotecas do mundo inteiro. Não perdemos mais tempo fazendo o suco do café-da-manhã - ele já vem prontinho para beber numa embalagem super prática. Nem sequer precisamos cortar as frutas - elas também já podem ser compradas descascadas e cortadas em tamanhos ideais para o consumo. Não mais precisamos passar semanas pesquisando um produto que desejamos - do nosso confortável sofá o compramos e o recebemos em casa. Nada mal. Aliás, é maravilhoso! Afinal o tempo é o recurso mais escasso e desejado nos dias de hoje, e com isso ganhamos muito tempo.

O grande problema é que o amor também virou item de prateleira. Algo que queremos encontrar pronto, consumir rapidamente e enfim satisfazer nossas necessidades de ‘amar’ da forma mais prática, veloz e cômoda possível.

Perdemos o prazer da conquista, do conhecer, do amar em silêncio, do ‘ir devagar’. Perdemos a paciência de paquerar, de tornar-se amigos. Afinal tudo tem que ser rápido, não podemos esperar.

A paixão e o amor se tornaram algo tão superficiais que saem com facilidade da boca de pessoas que mal se conhecem. “Poxa, ele é lindo, bem sucedido, solteiro... o conheci ontem, estou apaixonada!” ou “Você é tão linda, inteligente, independente... quer casar comigo?”

Acreditamos em amores prontos, em perfis ideais. Amamos as coisas e não as pessoas. Nos apaixonamos pela casca, sem ao menos tentarmos descobrir o miolo. Enfim, perdemos a paciência de conhecer o outro, de nos doar, de conquistá-lo dia-a-dia. E da mesma forma repentina com que nos apaixonamos nos desapaixonamos também. Porque quando a paixão não evolui para o amor ela morre! Passada a euforia da atração, a semente não cultivada pelos sentimentos e atitudes necessários não vinga. E novamente estaremos pronto para pegar mais um produto na prateleira.

Creio que este seja o grande motivo da solidão que abala as pessoas de todas as partes do mundo. E não falo de solidão apenas no sentido do ‘estar sozinho’, porque também podemos nos sentir sozinhos estando acompanhados - e este é o pior tipo de solidão.

Essa solidão que nos assola advém da nossa falta de paciência em conhecer as pessoas de verdade: Quais são seus planos, seus objetivos, sua filosofia de vida? O que gosta de fazer, o que considera importante, o que não admite? Que valores cultiva, como é sua família, quem são seus amigos? Como enxerga o mundo, as pessoas? Quais são seus sonhos, o que podemos aprender juntos, o que posso ensinar? Nossos mundos se complementam? Ampliamos nossos horizontes? Ou tirando a estética, o status e o que os olhos puderam enxergar no primeiro momento, não nos resta mais nada em comum.

A paixão é uma semente linda que quando cultivada com paciência, sinceridade, carinho e respeito pode crescer e se transformar numa linda, grande e formidável árvore chamada AMOR.

O amor não é para qualquer um. Nada na vida, muito menos o amor, pode surgir sem esforço, sem que tenhamos que ter cultivado e trabalhado muito por isso.

Precisamos deixar de ser tão superficiais e imediatistas e passarmos a enxergar a vida de maneira menos pronta. Precisamos nos conhecer com mais profundidade, ser menos impulsivos e mais verdadeiros. Devemos procurar nas pessoas o que não conseguimos enxergar a olho nu, o que os outros não conseguem ver ‘de longe’. Precisamos descobrir a única coisa que lhes é eterna – sua alma. Precisamos amar sem medo, sem interesse, sem possessividade, sem prestação de contas!

Precisamos nos tornar pessoas críveis e dispostas  a amar. Precisamos olhar mais nos olhos, escutar com vontade de entender, nos apaixonar pelas idéias, pelos ideais, nos emocionar juntos, lutar pelos sonhos do outro, desbravar caminhos, superar obstáculos, sorrir,  conhecer o cheiro da pele, apreciar até os ‘defeitos’. Esperar com fome para jantar juntinhos. Ficar ansioso com a ansiedade do outro. Sentir a dor do outro. Respeitar o seu espaço e ao mesmo tempo fazer parte dele. Estar com ele mesmo estando muito longe. Ficar com cara de bobo ao pensar nele. Não duvidar do que sentimos e do que o outro sente. Precisamos resgatar a verdadeira essência do amor!!
ABAIXO O FAST-FOOD!!!

2 comentários:

  1. uma vez escrevi um poema que dizia

    Amar é artesanato
    e o mundo anda tão fast-food
    e eu não sei dirigir nesse drive thru

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